Autor: Psicólogo Anderson Neves de Souza
A construção da autoestima é um processo vital e contínuo, profundamente moldado pelas experiências vividas e pelas estruturas sociais. Para a população negra, historicamente marginalizada, esse desafio ganha contornos únicos devido aos impactos do racismo estrutural e cultural. Este artigo reflete sobre como o contexto de opressão e negação da humanidade negra influencia a formação da autoestima, abordando a necessidade de uma reconstrução que transcenda a validação pela branquitude e resgate o valor intrínseco da negritude. A emancipação emocional e identitária surge como um passo crucial para a verdadeira liberdade, individual e coletiva.
A autoestima é um elemento essencial na constituição da identidade e na forma como nos relacionamos com o mundo. Conforme Moysés (2014), ela é desenvolvida ao longo da vida, influenciada pelas interações sociais e experiências. No entanto, para pessoas negras, a construção de uma autoestima saudável ocorre em um ambiente marcado pela negação de direitos e pela imposição de uma inferioridade histórica. Este artigo propõe uma reflexão sobre o impacto dessas dinâmicas e os caminhos para a revalorização da identidade negra.
1. A Herança da Marginalização
O racismo estrutural não apenas molda as condições materiais das pessoas negras, mas também afeta profundamente a maneira como nos vemos e nos sentimos. Teorias como a cognitivo-motivacional-relacional (Harris-Britt et al., 2007) mostram que a discriminação racial pode minar a autoestima, criando barreiras emocionais que dificultam a autorrealização.
2. A Antropologia das Emoções e a Experiência Negra
Estudos antropológicos apontam que nossas emoções são moldadas por estruturas históricas e sociais (Coelho e Rezende, 2011). No contexto brasileiro, as relações de poder e controle social foram fundamentais na desumanização da população negra, reforçando narrativas que ainda hoje influenciam a percepção da nossa própria identidade.
Conclusão
Resgatar a autoestima negra é um ato de resistência e de emancipação. Envolve rejeitar a branquitude como padrão e redescobrir a riqueza e a beleza da negritude. Esse processo, no entanto, não é apenas individual, mas coletivo, exigindo a valorização da história e da cultura negra como parte essencial da construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva e igualitária.
Referências
COELHO, R.; REZENDE, D. Cultura e sentimentos: ensaios em antropologia das emoções. 2011.
HARRIS-BRITT, A. et al. Perceived racial discrimination and self-esteem in African American youth: Racial socialization as a protective factor. Journal of Research on Adolescence, 17(4), 669–682, 2007.
MOYSÉS, Lucia. A autoestima se constrói passo a passo. Papirus Editora, 2014.